segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Impossibilidade do Amor impossível


Hábeis formas de manter activos os nossos sacos lacrimais, os estrondosos sucessos de bilheteira onde as histórias de Amor impossível eram o principal enredo são ainda hoje por nós vividos, não só através de filmes ou telenovelas, mas, principalmente através da novela que é a nossa própria vida no que diz respeito às nossas relações e áquilo a que teimamos em chamar Amor.
No ecrã, os envolvidos de tudo fazem para estarem juntos, só que depois, ou por causa de um ser rico e outro pobre, ou por causa da mãe, do pai, do sobrinho ou da prima não levam aquele Amor pra frente ficando para o resto das suas vidas amargurados de morte, com um eterno e estonteante zumbido nos ouvidos, a ecoar o nome do amado(a) que se espera um dia voltar a (re)encontrar. Claro que, com um bocadinho de sorte e um valente empurrão do guionista (que quer subir ainda mais as audiências) pode ser que a coisa resulte num esperado, suado e muito desesperado “final feliz”.  
Prova disto, são histórias como, Romeu e Julieta, dois adolescentes “cuja-morte-por-amor” acaba por unir as famílias, Tristão e Isolda, “aquele-amor-trágico-medieval”, até aos “nossos” D.Pedro e Inês de Castro, onde a “impossibilidade-do-amor-impossível”, foi ao ponto de D.Inês ser assassinada, levando D.Pedro a coroá-la rainha mesmo depois de morta.
Conseguimos perceber então, que ao longo dos tempos, aquilo a que se chamava Amor, foi invadido duma crença (que virou arquétipo, ou de um arquétipo que virou crença, vá-se lá saber!), revelando com toda a certeza, que por maior que seja o Amor que une duas pessoas, o destino às vezes é cruel e parece não querer que haja um… final feliz”.
Assim se casaram, sem impossibilidade e sem acordo pré-nupcial, duas grandes ilusões, que iriam marcar epidermicamente, de uma ou de outra forma, cada um de nós.   
A primeira, que pode haver uma séria e real impossibilidade no Amor.
A segunda, que no Amor existem finais felizes.   
As duas juntas? Imaginem o resultado. :-)   
O resultado tem resultado, na baralhação da verdade que a nossa alma quer a todo o custo revelar.
Se observarmos e sentirmos a natureza, percebemos que a vida é um eterno fluxo, que nos traz-e-leva de vida-em-vida, sendo o Amor a nossa maior dádiva.
Quando alguém que amamos não mais está presente fisicamente, por uma determinada ‘impossibilidade’ - porque desencarnou, porque sentiu necessidade de não mais estar ao “nosso-lado”, escolheu partilhar a sua vida com outra pessoa e por isso já não o faz connosco, isso não é sinónimo de “impossibilidade-do-Amor”, mas sim da “não-possibilidade” de continuar a relação. O que são coisas totalmente diferentes.
Confundi-las, confunde-nos e atrapalha em nós a verdadeira essência do Amor.

A impossibilidade da relação não é a impossibilidade do Amor.

O Amor é eterno e eterniza em nós quem amamos. Torna próximo, quem aparentemente parece estar distante. Torna presente, apesar de ausente. Não é uma resposta ao Amor do outro, mas sim uma expressão do nosso próprio Amor.  
Já as relações são outra história. Na relação com o outro e principalmente se estamos a falar de relações, onde os jogos psicológicos são a tónica dominante, as ‘impossibilidades’, sempre  criações e escolhas nossas, reforçam as nossas crenças “onde-o-não-ser-possível” é o maior sinónimo de que-grande-amor-este. Assim, inconscientes e inspirados pelo arquétipo Romeu-Julieta-D.Pedro-D.Inês-e-por-aí-fora, arranhamo-nos pelo cheirinho doce duma luta contra tudo e contra todos, onde o Amor por ser tão forte, certamente vencerá. 
Quem não gosta afinal duma boa impossibilidade para o desafio parecer ainda muito maior? 
Só que o Amor não precisa de desafios e muitas vezes é o medo que temos da impossibilidade de determinada relação 'funcionar', que a impossibilita realmente.  
As relações servem para nos conhecermos melhor através do outro, por isso nos vamos encontrando e desencontrando, dependendo das aprendizagens que tivermos de fazer. 
Ao desencontro, gostamos de chamar impossibilidade.
Dolorosa impossibilidade de Amar aquela pessoa.
Mas…o verbo Amar não tem passado.
E se um dia amámos, continuaremos a Amar.
No Amor não há rupturas, nem impossibilidades.
Pois ele é o que nós somos e não o que temos.
Talvez a nossa MAIOR POSSIBILIDADE na vida seja tão somente aprender a AMAR.
Para isso DESAPEGEMO-NOS daquilo que o Amor não é. 
O Amor, quando verdadeiro é o mais possível, possível.
E, se nele existe alguma impossibilidade, essa é a de ter qualquer final que seja.
Ainda que seja um “final feliz”.    



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